sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Qual a função social da Escola na contemporaneidade?

A educação é um instrumento imprescindível para o desenvolvimento de sujeitos articulados com o projeto de sociedade que está em voga historicamente. A educação é parte inerente da constituição humana, logo podemos compreender que o homem necessita da educação para humanizar-se.
Esse processo de humanização é processual e histórico e varia de tempo em tempo e de cultura e cultura. Para explicitarmos isso podemos pegar como paradoxo a sociedade grega e as suas duas principais cidades-estado: Atenas e Esparta. Enquanto em Atenas a Paidéia é voltada para a formação de sujeitos políticos, intelectuais e administradores da pólis, que logicamente exigia uma educação voltada para a retórica, para a linguagem e para a filosofia; em Esparta temos um ideal de sociedade guerreira, onde a educação é estatal e todos (incluindo mulheres) são “moldados” para atender os interesses da pólis, com a exigência de exercícios físicos e “obediência cega” ao Estado.

A partir desse exemplo, podemos perceber como a Educação no mesmo período histórico é contraditória e dialética, pois para entendê-la é fundamental fazer uma análise fisiológica da sociedade, dos seus problemas, dos seus anseios e suas perspectivas
Em um plano existencial o homem se constrói como ser a partir da forma como a sociedade o pensa e o educa. E se ele não se está presente nesse padrão ele perde para da sua humanidade, como em casos extremos de pessoas que não tinham conta com a sociedade e não “aprenderam” a ser seres humanos, pois não foram educados para isto, como no fascinante relato do O Menino Selvagem de Averyon, que foi encontrado na floresta e por não conseguir se adequar ao que a sociedade exigia acabou morrendo.
No plano histórico a educação é um processo dialético, pois as forças que a determinam não são homogêneas, variam de questões militares, religiosas e chegando atualmente ao predomínio do mercado.
A educação é uma força vital para a formação de um projeto de sociedade, de homens e mulheres comprometidos para um mundo pleno de justiça social. Porém, esses homens e mulheres têm por direito inalienável a Educação, ou seja, o direito de obter uma formação humana capaz de proporcionar meios de viver com dignidade em mundo de constantes transformações. Isso significa dizer que educação é fruto da justiça e tem como missão a própria justiça.
Como diria o célebre Paulo Freire “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.”
O grande empenho numa tendência global é colocar em prática o direito a educação a partir de políticas públicas que objetivam garantir o acesso e permanência na escola pública, gratuita e de qualidade. Seria até prolixo colocar que a universalização do direito a educação ainda é uma quimera em país em desenvolvimento que apresenta altas taxas de analfabetismo, natalidade e mortalidade infantil, e alarmantes disparidades sociais e econômicas.
Ainda é preciso desenhar um projeto real de valorização da Educação que passe de condições estruturais ( ainda temos escolas, que nem deveriam ser chamadas de escolas) até uma política de valorização dos profissionais da Educação.
Como foi dito anteriormente, atualmente a educação é pensado a partir de um víeis mercadológico, determinado por agentes do capital, o que muitas vezes limita um processo de formação crítica e holística dos alunos; a educação é pragmática e funcional.
A escola pública não pode ficar presa as determinações do capital, porém não pode negá-la. É fundamental que a escola pública forneça as condições necessárias para garantir ao aluno para que ele seja absorvido no mercado de trabalho, mas com valores de solidariedade, criticidade e compromisso com a construção de uma sociedade justa e igualitária.
A função social da escola na contemporaneidade, apesar das contradições existentes no espaço escolar, permite pensar na formação de sujeitos históricos, críticos, culturais, afetivos, construtores do seu processo sócio-educativo visando à erradicação das desigualdades sociais e qualidade de vida e educação para todos.

Um comentário:

  1. Te confesso que esse foi o texto que mais gostei, nem preciso dizer o quanto fiquei feliz em lê-lo. Como havia comentado contigo, certas partes da minha dissertação discorrem sobre a escola pública e o papel social e político que todo professor tem, principalmente os professores de língua, seja materna ou estrangeira já que, parafraseando Milton Santos, no mundo atual nada de importante se faz sem discurso.
    Voltando especificamente para a minha área, Lingua Inglesa, vejo que a problemática na escola pública é ainda maior. Cansei de ouvir alunos repetindo: "mas professora, eu não sei nem português, pra que vou aprender inglês?" ou o famigerado: "eu nunca irei para os Estados Unidos, não preciso aprender isso". Pior do que tais discursos, é a perpetuação de uma crença cada vez mais enraizada, tanto em professores, quanto em alunos, de que a escola pública não é lugar de se aprender essa língua, é o lugar do verbo to be e olhe lá. Não serei aqui hipócrita de dizer que é uma tarefa fácil, conheço todos os percalços que infelizmente assolam a maioria de nossas escolas, infra-estrutura zero, falta de material didático, pouquíssima carga horária, grande número de alunos, etc. Mas eu creio sim, que é possível se desenvolver um bom trabalho, basta termos consciência do nosso papel, não corroborando com a exclusão dos nossos alunos e porque não dizer de nós mesmos?
    Digo isso porque o ensino do Inglês tem passado por diversas fases aqui no Brasil. A primeira, de adoração pelo que vem de fora, que no "estrangeiro" é que é bom, as coisas funcionam direito, "nos Estados Unidos é assim, na Europa é assado". Depois vem a ideia de que, se eu não vou sair do país, pois não tenho condição, preciso trabalhar pra sustentar a família, não vejo motivo algum para aprender isso. A problemática da escola pública e sua "falha" quanto ao ensino dessa língua entra aqui. E nada acontece, ninguém ensina, ninguém aprende, nada acontece. Por último, vem a crença, ou percepção, ou ideia (no meu estudo eu uso o termo "representações" no mesmo sentido)de que o inglês é uma faca de dois gumes: pode levar ao sucesso, já que hoje é inegável seu papel de língua internacional, em um mundo cada vez mais globalizado, e a exclusão. Sim, exclusão. Pois como eu comentei contigo, tanto nós, professores, como nossos alunos, precisamos nos defender do discurso único (termo cunhado por Moita Lopes)que nos rodeia todos os dias, pela mídia, nas interações com o outro, em todo lugar. Eu vejo que o papel do professor e a função social da escola hoje é bem esse, preparar os alunos para adentrarem em mundo globalizado, muitas vezes impiedoso, para que não sejam excluídos, para que pensem criticamente e para que estejam preparados para se defender do pior tipo de aprisionamento, o do pensamento livre, individual e crítico.
    Beijocas pra ti e keep working ;)

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